terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os teus olhos ainda são a claridade dos meus
e o teu sorriso ainda é o catalizador dos meus sentidos.
Ainda é na minha pele que sinto o poder das tuas palavras,
ainda é no profundo do meu ser que estremeço perante a tua voz
e ainda és tu, tu que abres em mim a janela do sonho.
E só assim sei que me supero à misticidade do cosmos
porque na minha alma cabe uma imensão divina de ti
e porque, apesar das amarras que me prendem à realidade dos dias,
tocar o teu ombro ao de leve ainda gera um universo em mim.

sábado, 28 de novembro de 2009

És hoje o signo da ausência, o estandarte de um passado irrecuperável,
a lembrança permanente do ciclo inalterável das vidas.
Significas em mim a mudança necessária de uma alma que se reconstrói,
o marco que assinala o ponto de viragem latente, a alteração de mil dias num só.
Não guardei em mim espaço para não sucumbir ao embate
porque esse espaço era apenas a ilusão de um futuro que julgava sustentado.
Mas seres hoje o signo da ausência, endurece-me o interior,
faz-me querer que seja por dentro que aconteça a minha vida.
Porque no instante em que olho da janela do meu ser,
apercebo-me que não é garantia de um sonho dar de graça o coração.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

As feridas do coração são as mais difíceis de sarar.

O corpo dói numa lentidão do tempo que não passa
e o respirar torna-se indesejado, difícil à realidade de um presente tão triste.
As memórias e os desejos futuros fundem-se,
misturam-se numa correria de sonhos tremidos ou de luzes sem cor,
alimentam um monstro interior faminto, um medo da solidão que se desconhece.
A necessidade de esperar tempos mais certos e calmos,
engrandece de fúria a onda de emoções que se revolve em tão minúsculo espaço,
dá uma nova verdade ao desespero latente, à inquetação que não cessa,
um novo ardor, maior, às batidas alucinantes de uma anatomia carente.
Um coração com feridas assim, é um coração mais fraco,
uma alma menor, um futuro mais confuso e tardio.
Um pulso menos desejoso de um novo bater.

As feridas do meu coração são difíceis de sarar.

sábado, 7 de março de 2009

Que absolvência posso ter do crime de ter deixado o tempo passar,
que é que me desculpa da imobilidade de espírito que tive,
quais as soluções de tal grave mas humana distracção ?
Talvez o meu mundo minúsculo me tenha parecido imenso
e as prioridades tenham sido misturadas
numa agitação aparententemente motivante.
Acolhe-me agora a realidade de uma pequenez sem limites,
de um amasso estranho à pele.
Repor o tempo perdido é a maior ilusão do homem.
No entanto, não há outra luta igual
e não há qualquer motivo para não a travar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Encontro na escrita a minha força libertadora,
o meu refúgio escondido e sempre pronto,
a cura para as feridas que tardam a sarar
e o escape para o sal dos meus olhos.
As palavras, fruto da razão,
permitem-me esconder a realidade de um amor perdido,
fazem-me equacionar os dias e o futuro,
em vez de viver na ansiedade de um coração desesperado.
Enquanto escrevo, não sinto a imensidão do abandono,
não me desfaço perante as amargas ondas de uma tempestade maior.
Escrevo que o amanhã existe,
mas não me permito o conformismo de o viver assim.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Querer de volta um sonho
é como querer tocar uma miragem de águas imaginadas,
como querer viver uma vida de alguém que passa na rua.
Querer de volta um sonho,
faz-nos perder a alma, tirar-lhe o seu revestimento de solidez
e retira-nos as forças que julgavamos ter.
E quando esse sonho era real,
quando essa alvorada de felicidade era nossa
e podíamos tocá-la com as nossas mãos,
perdemos tudo e deixamos um corpo vazio.
Quando o sonho já se perdeu,

morre o coração.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Invade-nos a fraqueza de termos na futilidade
as ambições de uma vida plena,
de querermos caminhos que ignoram as portas
e as saídas para a luz de ser com os outros.
Somos pequenos no egoísmo de sermos sós com a felicidade
e somos inúteis porque nos evadimos da responsabilidade
de tornar a nossa efémera passagem em missão.
Somos nada ao abrigo da nossa diminuta visão do futuro
e traçamos, sem saber, uma linha igual a tantas outras.
Temos de admitir: a dureza de um embate interior
lembra-nos que, sozinhos, não podemos mudar o Mundo.